Fotografia de Steve McCurry
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Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny
3 comentários:
É também quase impossível de escrever o que senti quando li e reli este lindíssimo poema.
As palavras … as palavras ditas, as palavras não ditas, tantas palavras que devem ser ditas!
Têm um poder imenso, qual arma precisa, de alcance longínquo no pensamento e duradouro no sentir.
E se as palavras são embelezadas com bonitas imagens, tornam-se ainda mais poderosas.
Obrigada FLA, pelo bonito tapete que me estendeste à entrada da porta do Mangas.
Bom post.
Welcome again Graciete.
Obrigada, Fataça. Eu sei que é sincero.
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